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terça-feira, 10 de maio de 2011

O SONHO - A CURA E A CIRURGIA

Autoria: Claudete T. da Mata

     Ali eu estava, mergulhada no cerne das minhas memórias, à procura de uma resposta, no intuito de entender o que estaria acontecendo comigo - por que tantos problemas com meu corpo? Seria o meu psicológico o causador de tantos sofrimentos?
     Sentada numa pastagem crivada das mais belas flores silvestres, a refletir sobre cada imagem que fluia de minha mente. De repente, olhei o céu e vi outras imagens que se fundiam como o meu pensamento conturbado...
     Neste estágio, vi a aconchegante pastagem invadida por criaturas querendo me levar dalí. Após alguns minutos de puro raciocínio, coloquei meu plano de fuga em prática. Finalmente consegui fugir daquele bando de sanguessugas, que tentava desviar meus pensamentos, minhas esperanças e minhas certezas... 
     Foi uma longa batalha, entre saltos, gemidos e gritos que ecoavam por todos os cantos do mundo,  até  que, mergulhada nesta experiência, adormeci sem sentir.
     Ao sair da massa corpórea, vivi a mais bela de todas as vivências ao abrir os braços e bater azas, voando com a mesma liberdade dos pássaros que voam livres das grades que engaiolam muitos deles.
     Chegando em outro ambiente, plainei até pisar na terra firme. Foi então que senti um calafrio subindo pelas pontas dos dedos dos pés, tomando todo o meu corpo. Sentindo um frio gélido, percebi um vulto passar rapidamente atrás de mim.
     Movida pela adrenalina, virei-me para trás na tentativa de ver o que estava acontecendo. E para minha surpresa, como num passo de mágica, estava em minha volta um bando de criaturas famintas pelo néctar que me sustentava a vida - "A Força Criadora", que me dá coragem e me faz vencer todos os obstáculos físico e mentais, marcados em minha existência.
     Confesso que senti a fragilidade tomar conta de mim, sem ninguém para me proteger nesta luta contra aquelas criaturas escondidas em corpos horripilantes (uns completamente deformados, outros cegos tateando, alguns mudos aos urros, uns  sem pernas arrastando-se que nem cobras, e outros sem braços maldizendo a própria condição, na tentativa de colocar a culpa das suas falhas em alguém...). Penso ter passado pelo umbral, o tão conhecido e divulgado "Purgatório Bíblico".
     No meio das vibrações imanadas por aquelas criaturas, não percebi um sussurro que dizia nos meus ouvidos: 

     __Filha, voe bem alto, o mais alto que puderes. Não tenhas medo, acredite...  Serei tuas azas!

     Sem entender o misterioso sussurro, atormentada pelo tumulto causado pelas estranhas criaturas, suspirei profundamente. E num rápido impulso extracorpóreo, alcei vôo. Foi o vôo mais alto de todos, foi aquele que me levou ao outro lado da Terra, parecendo os confins do mundo. 
     Passei por uma terra vermelha, da cor do Sol, repleta de plantas de todas as cores, pedras de todos os tamanhos e forma, montanhas verdejantes e um "Ser" delicado e falante - Era uma anciã da idade da Terra, menor que uma menina de cinco anos. Seus cabelos eram mais brancos que a neve e tão longos quanto os raios do Sol bailando sobre o infinito, com a leveza da brisa que toca nosso rosto. 

     Tudo nesta anciã, era de fascinar e de assombrar ao mesmo tempo. Seu olhar penetrava com profundidade o meu olhar. O toque de suas mãos estava no mesmo patamar de seu olhar. Ela não tocava o chão, levitava.

     Então pensei: __ Será ela uma fada coberta pelas linhas do tempo, as quais ignoramos e chamamos de rugas. Neste momento, pude experimentar o seu toque que me deixou estática.

     A misteriosa anciã, durante três dias e três noites, cavou o chão com suas mãos ossudas, até as profundezas da Terra, extraindo da sua cerne o barro mais nobre, que numa espécie de ritual, colocou-o sobre meu pescoço. 


     Eu, que até então nada entendi o que se passava, me entreguei às mãos desta mulher, que na terceira e ultima aplicação do barro, me pediu que a colocasse sobre o topo de uma pedra, próxima à subida de uma montanha. 
     E lá de cima, a misteriosa anciã colocou as suas mãos enrugadas sobre minha cabeça,  emanando uma energia que banhou todo o meu "Ser". Em seguida, ela subiu a montanha saltitando com a velocidade de um "Ser Celestial" e sumiu.

     Finalmente, acordei no centro cirúrgico sendo conduzida à sala de recuperação, onde me vi agradecendo a Deus por ter sobrevivido mais uma vez.
     A cirurgia foi um sucesso. Eu estava curada!

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