Páginas

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O FILHO DA BRUXA


Lá na praia do Ribeirão, no sul da Ilha de Santa Catarina, vivia João, um menino que adorava pegar conchinhas na praia e ouvir histórias antes de dormir. A cada noite, sua mãe enchia sua imaginação de fadas, bruxas, dragões. O menino vivia feliz por vivenciar tantas aventuras, nas quais, com certeza, ele era sempre o herói.
O tempo passou, o menino cresceu e não quis mais saber de colher conchas na praia e nem de ouvir histórias. Eram outros os seus interesses.
Na mocidade, ele apaixonou-se e quis casar. Mas nenhuma moça quis saber dele, porque a vizinhança sempre dizia: __ Aquele é filho de bruxa.
Assim, sem conseguir casar, João envelheceu sozinho. Ele morava numa casa engraçada, na beira da praia, onde levantava com as galinhas e as marrecas, suas companheiras poedeiras, e dormia com o Sol poente.
Com surpresa, numa noite de lua cheia, João ouviu uns ruídos estranhos, que vinham lá da cozinha, parecendo cochichos de mulheres. E veio-lhe à memória que uma das vozes parecia sua mãe.
Velho João se levantou de mansinho, pé por pé... Desceu do sótão, onde ele costumava dormir desde menino. Prestou atenção e ouviu que as vozes eram de um bando de bruxas que estavam na sua cozinha, na maior festança, planejando seus passeios bruxólicos noturnos, após a comilança.
Tomado pelo medo, velho João manteve-se calado, espiando o saragaço da porta de seu quarto. Usando de toda a sua experiência e sabedoria, a bruxa mais velha do bando, viu o velho João tremendo que nem vara verde. Nesse momento, a vassoura da bruxa matreira, que estava encostada no fogão a lenha, olhou para a sua dona com uma piscadela de olho, quando saiu correndo se metendo entre as pernas do velho João, levantando vôo e saindo casa pela praia afora. 
A vassoura bruxólica parecia um avião com João montado nela voando sobre o Ribeirão. Mas o velho, todo desengonçado, quase se despencando lá do alto, chegou na Praça XV, no Centro da cidade, onde sobrevoou durante tanto tempo, até que se desequilibrou e caiu bem no meio de uma dupla de palhaço. Os palhaços cantarolavam, falavam palhaçadas e a platéia ria, ria... 
Velho João, feito menino, entrou na brincadeira, pulando, cantando e palhaçando, arrancando aplausos e ridos das pessoas. Quase se esquecendo do bruxaredo e da vassoura. Agradecido por ter sido bem recebido, o velho João prontamente acreditou no que ouvira e no que vira, sentiu saudade de casa, principalmente de seu travesseiro o seu melhor companheiro. Nesse momento, a vassoura, escondida atrás da figueira da Praça XV, ouviu o sussurro do velho João, e veio correndo se metendo entre as pernas dele. Os dois levantaram vôo. Como num passe de mágica, o velho João se viu deitado na sua cama quentinha, com seu pijama de bolinhas, abraçado com o seu travesseiro, e falou:
__ Isso só pode ter sido um sonho. Levantou-se e foi até a cozinha, que estava vazia e toda limpinha. E ele prometeu que, daquele dia em diante, contaria muitas histórias. E a cada história contada, as bruxas seriam libertadas e felizes com suas vassouras, povoando a imaginação de muitas pessoas. Neste instando, a janela de seu quarto se abriu. E o velho João se levantou para fechá-la. Mas quando ele colocou suas mãos na janela, lá de fora alguém deu uma gargalhada: __ Ahahahah....
Era a mãe do velho João, a bruxa mais velha do bando, a dona da vassoura que o levou até a Praça XV e o trouxe de volta.
Quem gostou que bata palma. Quem não gostou se levante e vá embora. E acabou a história!
Autoria: Claudete T. da Mata
Fpolis, SC, Junho de 2006.

Nenhum comentário: