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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NATAL NA PRAÇA

Era Natal na meiga e tímida pracinha de São José da Terra Firme ,
Ao seu lado, todo iluminado, estava o centenário Teatro Adolpho Mello, 
O mais antigo do Estado e o terceiro do Brasil.
Todo majestoso, recebe o nome do homem que nasceu em 20 de outubro de 1861 em São José da Terra Firme, que tempos depois, vai ao encontro das estrelas em 1º de novembro de 1926 na antiga Desterro.

Na beira da estrada morava Chico, o macaco da praça
Sempre alegre e brincalhão, jogava nos trausentes tudo o que tinha em mãos.
Ao lado de sua casa colocaram um torneira, que ainda se encontra lá,
Chico, malvado e ao mesmo tempo brincalhão, na falta de algo para atirar, 
Ligava a torneira só para ver a água jorrar, 
Formando uma grande poça que obrigava os trausentes pular.
Ali Chico cresceu, viveu e morreu, deixando saudades em quem o conheceu.

Nos arredores da singela pracinha,
Estavam os casarios formadores do centro histórico
Cada qual iluminado por luzes multi cores
Chamando a atenção de quem por eles passava,
Principalmente as crianças sem uma confortável casa.

Majestosos sobre a sala principal
Estavam as requintadas Árvores de Natal
Diferentes das árvores tradicionais da época,
Aquelas feitas com galhos secos de goiabeira,
Revestidos com barbas de velho
Enfeitadas de bolinhas feitas de coloridos papéis de bala.

Era um momento em que as as famílias menos abastadas, 
Reuniam-se ao redor do fogão a lenha com suas grandes chamas clareando todo o ambiente,
Para a montagem do Pinheiro de Natal.

Enquanto que sobre as mesas das famílias bem abastadas,
As guloseimas enfeitadas com motivos de Natal, 
Enchiam os olhos das crianças pobres que por elas passavam, espiando pelas janelas,

Nas casas das famílias menos abastadas, 
As mães mais atenciosas,assavam sobre a chapa do fogão a lenha,
Deliciosos bolinhos de fubá embrulhados em folhas de bananeiras.
E lá nos fundos do quintal também eram assadas as bolachas de Natal
Enfeitadas de bolinhas de açúcar cristal,

E nas casas das famílias sem recurso algum,
Só restava o desejo de ter à mesa um pedaço de pão para saciar a fome,
Restando-lhes apenas o direito de viver
E o desejo retratado no imaginário de suas crianças
De ver Papai Noel deixar na sua humilde casa
Um presente de Natal.

Foi assim que a pequena e miudinha Maria
Saia nas noite que antecede o Natal,
Para vender seus acanhados pacotinhos de balas azedinhas,
Sem poder voltar para casa sem dinheiro suficiente para entregar aos pais,
Que ao passar em frente dos casarios do centro histórico de São José da Terra Firme,
Viu uma única vez, as famílias dentro de suas confortáveis casas
Cantando "Noite Feliz".

E foi assim que na véspera de Natal, 
Maria, descalça, com seu vestido remendado
Olhou pela janela, tudo o que pode, 
Soltou um ofegante suspiro e olhou o céu sem perceber
Que a sua volta, estava um grupo de crianças bem vestidas, a lhe jogar pedras.

A menina, sem poder se defender
Desfaleceu sobre o gelado paralelepipedo,
Enquanto que as crianças bem abastadas se afastavam 
Cantando num só coro "Noite Feliz",

A pequena e frágil Maria
Acordou no dia seguinte deitada sobre sua humilde cama,
Uma simples esteira de palha forrada com uma coberta surrada,
De onde sentiu o Natal passar,
Sem nunca mais poder sai para vender os saquinhos de balas azedinhas
E jamais voltar a ver pelas janelas dos casarios de São José da Terra Firme,
As guloseimas do Natal,
Restando à doce menina, 
Simples lembranças de um tempo que não volta mais.


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